12 junho, 2013

Divórcio

Minha esposa, se não me engano está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes que eu. O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher.

O segredo no fundo é renovar o casamento e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal.

De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, seduzir e ser seduzido. Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial?

Há quanto tempo não fazem uma lua-de-mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção?
Sem falar dos inúmeros quilos que se acrescentaram a você depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 kg em um único mês, por que vocês não podem conseguir o mesmo?

21 fevereiro, 2013


Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. 
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo docemente. Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança...

É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade. Para se conquistar um coração definitivamente tem que ter garra e esperteza. Mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos. 
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago...

... E então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco. Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração. Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria. Baterá descompassado muitas vezes e sabe por quê? 

Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.

Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la, nos entregará a metade que faltava.
E é assim que se rouba um coração, fácil não? Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade, a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!


Luiz Fernando Veríssimo

16 fevereiro, 2013

Chegou o verão!



Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.
Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.
Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no tênis.

Mas o principal ponto do verão é... A praia! Ah, como é bela a praia.


Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.
Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.
Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.

O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando.
Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa, toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias.
Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e prontos pra enterrar a avó na areia.

20 janeiro, 2013

"Vivemos"


Vivemos...

Em um mundo onde a violência impera,
O mal está presente em todos os lugares,
O analfabetismo só tende a crescer.
Livros são substituídos pela tecnologia,
mas não como forma de atribuir cultura,
E sim como única forma de entretenimento.
Onde o amor é subestimado, banalizado e despriorizado,
Onde a morte é temida e desafiada,
Onde a ganância e o poder andam lado a lado,
Tornando-se mais forte do que todos os outros princípios.

Vivemos em um mundo onde nada mais importa se não o seu bem-estar.
Onde os fracos não vencem.
Onde a magia é desacreditada,
Onde a fé já se extinguiu.

Um mundo de dor.


Giselle Pontas - 11/01/2012

"Da Amizade"


De um amigo não se espera mais nada que a verdade.
Sentimentos verdadeiros,
Gestos espontâneos,
Palavras sinceras,
Olhares cúmplices,
Conversas silenciosas,
Risos incontroláveis,
Choros inexplicáveis,
Amizade incontestável.



Giselle Pontas - 29/02/12

28 novembro, 2012

Estamos com fome de amor...


Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros  e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que  estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.  Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os  novíssimos "personal dance", incrível.
E não é só sexo não, se fosse, era  resolvido fácil, alguém duvída?
Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber  carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de  um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormir abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa  marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a  carreira, a produção.
Tornamo-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como  voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão  distante de nós.

14 outubro, 2012

O Menestrel


Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se. E que companhia nem sempre significa segurança. Começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas.

Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

Aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.

E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la…

21 setembro, 2012

Em Mogi Mirin


Há cerca de um ano eu decidi que daria um presente mais que especial no aniversário de 18 anos da minha melhor amiga: Um abraço. Algo simples, que não pode ser embrulhado, comprado ou encomendado. Beatriz mora no interior de Sampa, e por isso eu passei um ano ponderando essa decisão, hora eu achava que era completamente impossível, hora achava que era viável, hora achava que era a melhor idéia que eu já havia tido. Ai então eu comecei a trabalhar, a desculpa do “Não tenho grana” não podia mais ser usada... E então eu comentei isso com um amigo muito querido que me persuadiu a não desistir, praticamente me coagiu a ir, o que foi uma atitude muito útil, já que me proporcionou um dos melhores fins de semanas que eu já havia tido.
Comecei a ver as passagens de avião, mas a indecisão me fez perder as promoções da Ponte aérea, então tive que apelar ao bom e velho ônibus. Liguei pra mãe dela pedindo abrigo, troquei meu horário no trabalho, respirei fundo e... Viajei. 7hs30min de viagem depois eu descia em Campinas e embarcava em mais 1hs20min até a cidade de Mogi Mirim. A mãe dela foi me buscar na rodoviária, fui extremamente bem recebida, era como se já fosse normal eu estar lá, não era “A primeira vez que iríamos nos ver”, estava mais para “Mais uma vez que iríamos nos ver”.
Foram quase 40 minutos de muita tensão. O Pai dela foi buscá-la na faculdade, e enfim ela chegou. Corri pro quarto dela e me sentei no chão, no canto, apenas esperando a hora certa.
“Mãe, senta ai que eu tenho que te contar...” – Ouvi sua voz vindo da sala, entrando no quarto.
“Mesmo? Então conta pra nós duas?” – Eu me levantei e só então ela me viu.

30 agosto, 2012


Desde pequena sempre tive que lidar com perguntas, comentários e olhares curiosos, bizarros ou ofensivos. No início, como toda criança, obviamente me incomodava, me chateava e me fazia sentir ainda pior e menor. Lembro de ouvir minha mãe contar que por vezes ela chegava na escola para me buscar e lá estava eu, sentada no canto, brincando sozinha, triste.
Quando entrei na adolescência e comecei a socializar com pessoas um pouco mais velhas e maduras passei a não ligar mais para isso. Passei a notar apenas as pessoas que demonstravam não se importar com a minha aparência um tanto diferente. Ainda assim tive que enfrentar situações chatas, perguntas “idiotas” e até “grosseiras” e a sempre presente discriminação e chacota.
E então eu cheguei à época do Ensino Médio. Lá eu conheci o que era ter amigos. As perguntas diminuíram, os olhares eram mais discretos e as piadinhas já quase não existiam... Foi a época a qual eu mais me senti, de fato, alguém como qualquer outra pessoa, sem nenhuma diferença.
Hoje, já na fase “adulta”, estou praticamente desacostumada com esse tipo de atitude. Não que me incomode, muito pelo contrário, por vezes eu nem mesmo percebo os olhares ou comentários maldosos, e quando eu percebo, aprendi a simplesmente ignorá-los e seguir minha vida, já que ela não depende – e nunca dependeu – da aprovação de ninguém.
Até que, há cerca de uma semana atrás, eu me deparei com a pergunta mais... Curiosa, bizarra, estranha... Enfim, a pergunta mais incomum que eu já havia ouvido.
Veja bem, irei citar algumas das perguntas mais feitas para mim, enquanto albina. Vejam:
“Você vê as coisas se mexendo igual seu olho, ou vê tudo paradinho mesmo?” – Referindo-se ao Nistagmo (movimento involuntário dos olhos, muito comum entre os albinos).
“Você nasceu assim?” – Essa inclusive é a mais comum entre as crianças.
“Mas o problema é com a sua mãe ou com seu pai?” – Na verdade essa foi uma pergunta feita à minha mãe certa vez.
“Você terá filhos albinos também?” – Essa pergunta é a mais ouvida em disparada, e inclusive uma das que mais gosto de responder. (A propósito, a resposta é não.)
“Você é fértil?” – Não entendi até agora o motivo (Se é que há algum) dessa pergunta. Alguém se habilita a explicar?
Entre muitas outras, as quais eu demoraria horas citando.
Acho que deu para perceber que as perguntas variam das engraçadas até as sem lógicas, mas acreditem o melhor é ver a cara com que as pessoas fazem essas perguntas... E a pior de todas ainda está por vir.

15 janeiro, 2012

À Joanne Rowling




Essa mulher, além de mudar minha vida em um milhão de sentidos, sem dúvidas me ensinou valores inestimáveis.
Amizade, amor, inveja, ódio, preconceitos, ignorância, subestimação, autoafirmação, lealdade, rancor, medo, fraqueza, coragem, e novamente o amor.
Porque não foi só um tipo de amor, foram todos os tipos de amor. Amor pelos pais, amor pelos filhos, amor de amigo, amor pelo poder, amor por um homem/mulher... Mas principalmente o amor verdadeiro.
Nenhum homem, na ficção ou na 'vida real' jamais amou como Severo Snape.
E mais do que minha mãe, mais do que meu pai, mais do que qualquer professor/a que eu tive em 18 anos. Ninguém me ensinou tanto quanto Joanne K. Rowling.
E não só a mim, mas a todos que algum dia abriram um livro de Harry Potter. Todos aprendem algo.
E a cada vez que eu releio, um novo ensinamento aparece, uma nova face dos fatos surge e uma lição é aprendida.
É mágico.

16 dezembro, 2011

Descrítica - "Amanhecer parte 1"

Então, gente, dia desses tava rodando por ai e achei um blog SUPER FODA, comecei a ler umas Críticas - ou Descríticas, como diz o próprio nome - e me deparei com a coisa mais hilária, e certa, que li até hoje: Uma "Descrítica" sobre Amanhecer parte 1.
Eu pedi à Lívia, dona e autora de todos os textos do blog, para que me deixasse mostrar essa obra prima aos meus amados amigos / leitores, e ela deixou \o/
O blog é esse: http://descritica.blogspot.com/
Corram lá para ver as maravilhas que ela escreve!
(Todas as opiniões aqui descritas são da autora do texto, mesmo que em muitos pontos eu concorde plenamente com o que ela diz)
Então ai vai:

(Breaking dawn. Bill Cordon, 2011)


Amanhecer – parte I

Ou

Coragem Que Só Falta Mais Um Pra Acabar


Não é segredo pra ninguém que não gosto da “Saga Twilight” – não gosto dos filmes, não gosto dos livros (é, eu li – me julguem agora), especialmente não gosto dos atores (o que é a Kristen Stewart, e quem pensou que ela conseguiria ser a principal condutora de qquer narrativa, pelo amor de Deus?) e do tom-sombio-gótico-sério que eles adotaram desde o primeiro filme. Mas tenho que ser honesta em uma coisa: esse filme é uma excelente adaptação do que considero o segundo pior livro da série (honra que vai para a Bella em seu auge emo no segundo volume) – o que não quer dizer que ele seja bom, nem de longe, mas não dá pra esperar muita coisa considerando a matéria prima.
Agora, só uma coisa: a atuação do Robert Pattinson. Oh, Deus, a atuação do RP. Olha, é claro que nunca foi boa, mas não lembrava que era tão ruim. Kristen Stewart, com sua expressão facial única, era no que eu costumava conseguir focar no cinema enquanto me contorcia na cadeira pela morte da atuação. Mas dessa vez, o senhor Edward Cullen conseguiu roubar a cena com sua completa e total falta de expressão facial. É quase como se estivesse fazendo de propósito – como se finalmente tivesse decidido deixar as críticas mordazes que faz à Twilight nas entrevistas de lado e partido para uma ação mais efetiva, uma greve silenciosa em forma de recusa de fazer qualquer esforço, por menor que seja, em demonstrar emoção. Chega a dar até medo. E quando junta ele e a Kristen na cena (que é a primeira parte do filme inteira), sem nenhum Lobisomem sem camisa pra te distrair da dor, a coisa fica bem feia.
Ah, e falando nele... como é que o Lobisomem passa um filme inteiro sem aparecer sem camisa? Achei que estava no contrato dele, ao menos 3 cenas com o torso nu...

[Spoilers? Você deve estar brincando comigo.]

[drinking game pra essa crítica: “virgem”]

[Com ajuda da Aline e do André – gente com senso de humor é outra coisa]

Cena: casamento mágico do casal, que vai fomentar o sonho de milhares de meninas ao redor do mundo pelos próximos dois meses e aumentar as vendas da Capricho- especial Crepúsculo (“todo o que você precisa saber para conquistar seu próprio Edward”; “Você é team Edward ou team Jacob – faça o teste e descubra”; “como ter um casamento dos sonhos da Bella”.)

30 setembro, 2011

Para refletir:


Quando você conseguir superar graves problemas de relacionamentos, não se detenha na lembrança dos momentos difíceis, mas na alegria de haver atravessado mais essa prova em sua vida.
Quando sair de um longo tratamento de saúde, não pense no sofrimento que foi necessário enfrentar, mas na benção de Deus que permitiu a cura.

Leve na sua memória, para o resto da vida, as coisas boas que surgiram nas dificuldades. Elas serão uma prova de sua capacidade, e lhe darão confiança diante de qualquer obstáculo.
Uns queriam um emprego melhor; outros, só um emprego.
Uns queriam uma refeição mais farta; outros, só uma refeição.
Uns queriam uma vida mais amena; outros, apenas viver.
Uns queriam pais mais esclarecidos; outros, ter pais.
Uns queriam ter olhos claros; outros, enxergar.
Uns queriam ter voz bonita; outros, falar.
Uns queriam silêncio; outros, ouvir.
Uns queriam sapato novo; outros, ter pés.
Uns queriam um carro; outros, andar.
Uns queriam o supérfluo; outros, apenas o necessário..

Há dois tipos de sabedoria: a inferior e a superior.
A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe e a superior é dada pelo quanto ela tem consciência de 
que não sabe.
Tenha a sabedoria superior. Seja um eterno aprendiz na escola da vida.
A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior alivia, a inferior culpa; a superior perdoa, a inferior condena.

Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar!

Chico Xavier

29 agosto, 2011

Cite seu quote favorito (de filmes, de músicas, de livros).

Filme: "As palavras são nossa inesgotável fonte de magia" HP e as RdM ²

Livro: "Não são nossas qualidades que definem quem realmente somos, e sim nossas escolhas." J.K Rowlling (Harry Potter e a Ordem da Fênix)

Musica: "Se é loucura então melhor não ter razão" Lulu Santos (O último romântico)

Ask me anything

21 agosto, 2011

O Homem nú.

Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

— Maria, por favor! Sou eu!

Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.

Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!

— Isso é que não — repetiu, furioso.

Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.

— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.

Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu...

A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

— Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

— Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

— É um tarado!

— Olha, que horror!

— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão.




Fernando Sabino

20 agosto, 2011

VIRTUALMENTE FALANDO

Enquanto uma enorme parcela da população teme qualquer tipo de aproximação com pessoas desconhecidas pela internet, jovens internautas vêm quebrando o paradigma de que amizade virtual não existe.

Unidas pela paixão por determinadas histórias, centenas de pessoas se encontram online para discutir, escrever suas teorias, cenas desejadas e continuações, principalmente quando se trata de sagas.

Em um endereço virtual comum, internautas de cantos opostos do país conversam, conhecem novas culturas, ou encontram outros da mesma cidade, que poderiam jamais se conhecer pelos meios convencionais. Webcam, redes sociais, blogs e emails são utilizados, e essas pessoas se mantêm sempre em contato.

No processo de desenvolvimento de cada história, que geralmente ocorre por capítulos como uma novela, os círculos de amizade se formam, baseados em afinidades e outras características em comum. As pessoas mais próximas tendem, então, a se encontrar pessoalmente. Logo, o grupo inteiro se esforça para conhecer ao menos um, e a partir daí estão, definitivamente, uns nas vidas dos outros.

Essa amizade baseada apenas em sentimento é pura, sem interesses e preconceitos. É fortalecida em conversas, desabafos e conselhos, tornando-se tão forte que nem a distancia abala, pois a base fundamental é a confiança e a compreensão, e não é preciso estar próximo para estar junto, e sim do lado de dentro.